terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Poema - Isabel Rosete - Portugal

Dois apontamentos sobre o sonho

I.

O sonho alimenta as Almas solitárias,
Arrasta os corações des-pedaçados
Para um Paraíso por vir,
Tão perdido, quanto desejado.
Esfuma a voz tenebrosa
Do desassombro e do extraordinário,
As malhas das franjas entediantes
De uma existência in-completa.

O sonho dirige as costas lastimosas
Do vil e desmedido desassossego,
A inquietude do Desejo de um tempo outro,
Ampara as des-ilusões do Destino,
Implacável, cruel, por vezes, sorridente,
Sempre presente na sua ausência discreta.

O sonho eleva os ânimos ao in-habitual
Na efervescência do prazer ou da dor,
Efêmeros, por entre os escassos momentos
De Felicidade e de Glória que ainda restam
Nas margens do silêncio que as palavras não dizem,
Nas pausas do sono e da vigília despertas,
Nos caminhos insondáveis do inconsciente
Sem nexo, coerência ou razão visível.

O sonho acorda os mitos, os fantasmas,
As recordações de um passado
Que, em qualquer momento, se presentifica
Des-focado, velado, atrofiado ou liberto
Na latência de uma premonição única.

II.

Sonho por entre as dunas desertas
Das praias ensolaradas, antes que o Sol
Se apague outra vez.
O desejo libidinal assoma,
O cheiro do Amor eleva-se
Nas mucosas ressequidas
Pela intensidade da respiração orgástica.

O sonho e o desejo do sono sereno,
O eterno do prazer mantido no fervilhar
Continuo da imaginação que jorra pelos corpos,
Exaustos, que já não têm par.

Em uníssono se erguem, até um outro amanhecer,
Vigoroso, nos interstícios dos sentimentos
Que ainda fumegam do sono do sonho que tardou.
Comovem a Alma e o Espírito des-pertam
Na ansiedade rara de um amanhã mais terno.

Isabel Rosete

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